Um dia desses estava conversando com duas grandes amigas dos tempos de faculdade sobre como mudamos ao longo desses 20 anos. Alguns filhos depois, amadurecemos e isso é claro. Mas falávamos, sobretudo, da mudança estética. A tendência é sempre acharmos que estávamos melhores antes, com as curvas de 20 e poucos anos e a pele lisa de quem não tinha tantos problemas (mas já se preocupava com o filtro solar).
O curioso foi chegarmos, de forma unânime, à conclusão de que estas duas décadas só nos fizeram bem. Temos hábitos mais saudáveis, algumas de nós até mais em forma, penteados que favorecem mais ou um estilo mais harmônico. Muitas pessoas olham pra nós e não dão a idade que temos. “Nossa, dormiu no formol?”. E aí é que está o ponto.
Com certeza a intenção de quem diz é das melhores, um elogio. Mas, do lado de cá, reverbera como uma amarga denúncia: estamos velhas. Tá, não é pra tanto, as três estão mais perto dos 40 do que dos 30, mas ainda longe dos 50, 60. Mas estamos envelhecendo e esta parece ser uma constatação melancólica, especialmente para nós mulheres.
Estamos sempre em busca de cremes milagrosos que eliminem as linhas de expressão, tintas que cubram os fios brancos, técnicas estéticas que façam com que a gente entre em uma máquina do tempo e saia com 10 anos a menos.
Por que temos medo de envelhecer? Minha suspeita particular é de que tem menos a ver com a aproximação da morte e mais, muito mais, com a forma discriminatória, limitante e estereotipada como a nossa sociedade encara esse processo.
Falando especificamente de uma perspectiva feminina, nos venderam a ideia de que uma mulher acima dos 60 já está entrando em uma fase de inatividade. A idosa é frequentemente retratada como aquela senhorinha opulenta, grisalha, que vive em uma casa com cheiro de bolo recém-assado. Ou como alguém com muitos problemas de saúde. Eu não estou querendo invalidar as dificuldades de se envelhecer, longe de mim. A idade pesa, isso é inegável, o nosso corpo não é mais o mesmo.
O que não significa que seja pior ou melhor, apenas diferente. Esses dias mesmo eu subi na balança (algo que eu faço muito pouco) e, surpreendentemente, ela me disse que eu estava com o mesmo peso que eu tinha nos meus 20 e poucos anos. Mas, ao olhar no espelho, era nítido que meu corpo era outro. Dois filhos e uma década depois, não podia mesmo estar igual. E TUDO BEM!
O que eu quero dizer com esse texto é que é importante que a gente aceite, de peito aberto, as mudanças que os anos nos trazem. Algumas são desafiadoras, outras vêm para agregar. Mas aceitar cada ruga, cada processo, já é um excelente começo. E perceber que o nosso potencial ativo e criativo não está ligado aos anos nas costas que acumulamos, mas sim a como nos encaramos e como desejamos envelhecer.
A expectativa de vida aumentou e nós podemos passar 1/3 da nossa vida na “melhor idade”. Como vamos entrar nesta fase? Como se estivesse acabando ou só começando? Vamos pausar nossa vida, nossas vontades e nossos sonhos porque nos disseram que estamos velhas demais pra qualquer coisa? Vamos ficar presas a estereótipos que não nos representam?
Eu me recuso, e você?
[gap] [row h_align=”center”] [col span=”3″ span__sm=”12″] [ux_image id=”2563″] [/col] [col span=”8″ span__sm=”12″]Daniela é jornalista e locutora há 15 anos, mãe do Gael, de quase 4 anos, e da Maia, de 6 meses. O estresse da cidade grande a fez encontrar, no yoga, um caminho de autoconhecimento. Mas foi na primeira gestação que pôde se aprofundar na potência do próprio corpo. Dois partos naturais depois, segue na busca pelo equilíbrio mental e físico e em formas menos danosas de existir no mundo. Apaixonada por viagens e viciada em café.
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